A importância de se falar de problemas do sono é que a maioria deles pode ser tratada quando devidamente reconhecida. O sono pode ser prejudicado de várias maneiras, como insônia e fragmentação do sono, apneia obstrutiva do sono, síndrome das pernas inquietas, presença de movimentos periódicos dos membros, transtorno comportamental do sono REM e sonolência excessiva diurna.
Insônia e fragmentação do sono:
Insônia é definida como uma dificuldade recorrente de adormecer ou permanecer dormindo, com consequências psicológicas ou cognitivas durante o dia seguinte. A fragmentação do sono está presente em até 80% dos pacientes com DP e pode ser definida como despertares frequentes que interrompem o sono normal.
Tanto a insônia como a fragmentação do sono podem ser causados por recorrência dos sintomas parkinsonianos durante a noite, ansiedade, depressão, apneia do sono, síndrome das pernas inquietas, presença de movimentos periódicos do sono, dor e câimbras, e medicações.
Para um tratamento adequado, o mais importante é reconhecer a causa da insônia. A recorrência dos sintomas do Parkinson à noite, com dificuldade em se virar na cama devido à rigidez, pode ser uma das causas e, nesses casos, o ajuste do tratamento da doença de Parkinson é necessário.
Além disso, alguns cuidados simples do dia a dia podem melhorar muito a qualidade do sono. São eles:
1) Manter uma temperatura confortável no quarto;
2) Estabelecer um cronograma regular de sono-vigília e evitar dormir demais;
3) Ir para a cama somente quando estiver como sono;
4) Não comer, beber, fumar, assistir TV, usar computador ou ler na cama;
5) Evitar observar o relógio;
6) Não fazer exercício dentro de três horas antes de dormir;
7) Envolver-se em atividades relaxantes antes de ir para a cama;
8) Não ir para a cama sentido fome;
9) Não beber bebidas com cafeína à noite;
10) Evitar bebidas com álcool antes de ir para a cama.
Apneia obstrutiva do sono:
A síndrome da apneia obstrutiva do sono é caracterizada pela presença de episódios repetitivos de obstrução das vias aéreas durante o sono, provocando queda da oxigenação do sangue. Uma pista para a presença de apneia do sono é a ocorrência de roncos, mas o diagnóstico definitivo é feito por meio de um exame chamado polissonografia. O tratamento pode ser feito com o uso de máscaras próprias que auxiliam na respiração (CPAP), e é responsável pela melhora da qualidade do sono, da sonolência excessiva diurna, da função motora e também do humor.
Síndrome das pernas inquietas:
É caracterizada por uma necessidade de movimentar as pernas, acompanhada de sensação desagradável, como dormência nas pernas, que acontece ao repouso e alivia com o movimento. Geralmente inicia-se ao entardecer ou ao deitar-se.
O diagnóstico é feito através da história clínica obtida pelo médico e pode ser complementado com exames laboratoriais, eletroneuromiografia e polissonografia, nos casos que for necessário. O tratamento específico deve ser indicado pelo seu médico.
Movimentos periódicos dos membros
São movimentos involuntários das pernas que ocorrem durante o sono e podem prejudicá-lo. Podem ocorrer em pacientes que têm a síndrome das pernas inquietas, ou podem ocorrer isoladamente, sendo que muitas vezes são encontrados por acaso no exame de polissonografia.
Transtorno comportamental do sono REM:
Antes de falarmos sobre esse transtorno é importante sabermos sobre as fases de um sono normal. Em uma noite de sono teremos o sono não-REM, composto pelas fases 1, 2, 3 e 4, e o sono REM. Veremos rapidamente cada uma das fases a seguir:
Sono não-REM:
◦ Fase 1: adormecimento. Dura até 5 minutos. A pessoa tem sensação de vagueio, pensamentos incertos, pequenos abalos das mãos e dos pés e acorda facilmente se for chamada.
◦ Fase 2: dura em torno de 15 minutos. A pessoa já está dormindo, mas não em sono profundo. A temperatura corporal e a frequência cardíaca diminuem.
◦ Fase 3: sono mais profundo. Tem duração de 15 a 20 minutos.
◦ Fase 4: duração de 40 minutos, sono profundo, difícil acordar alguém nessa fase de sono. Ocorre liberação de hormônios do crescimento, fundamental para a recuperação de energia física.
Sono REM: nessa fase ocorre atividade cerebral intensa, semelhante a quando o paciente está acordado. Os músculos ficam flácidos e há o movimento rápido dos olhos característico dessa fase (REM = “rapid eye movement” ou “movimentos rápidos dos olhos”). Os sonhos são intensos e envolvem atividades emocionais muito fortes. A frequência cardíaca e respiratória voltam a subir, assim como a pressão arterial.
É nessa última fase do sono, o sono REM, que o transtorno acontece. Os músculos não ficam flácidos como deveriam e, associado aos sonhos vívidos que ocorrem, os pacientes podem falar, gritar, gesticular, bater ou chutar, de acordo com o conteúdo dos sonhos.
Muitas vezes o paciente pode não perceber e é o parceiro de cama que sofre agressões devido ao comportamento anormal do sono.
Sonolência excessiva diurna:
É definida como uma incapacidade de se manter acordado e alerta durante os principais períodos de vigília do dia, interferindo com a vida profissional e social.
É importante diferenciar sonolência diurna de fadiga, que é uma sensação de cansaço físico e falta de energia que muitas pessoas sentem de tempos em tempos.
A sonolência excessiva diurna tem gravidade variável, podendo ser leve, quando provoca apenas distração no paciente, ou grave, chegando a provocar lapsos involuntários de sono, amnésia e comportamento automático. O episódio mais preocupante é o ataque de sono, definido como o início súbito de sono sem a sensação prévia de sonolência. Este pode ocorrer em até 14% dos pacientes com DP e é especialmente importante seu reconhecimento pelo risco de traumas e acidentes, incluindo acidentes de trânsito.
Diversos fatores estão envolvidos como fator causal da sonolência excessiva diurna. São eles: alteração do ciclo-circadiano – pacientes que dormem de dia e não dormem à noite, depressão e ansiedade, demência, doenças concomitantes como infecção e medicações.
O tratamento deve incluir orientação ao paciente quanto ao risco de acidentes, avaliação de distúrbios do sono e respiratórios como fatores causais e prescrição de medicamentos, prescritos pelo neurologista quando for necessário.
Fonte: Viva bem com Parkinson
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